Falas marcantes – O Elo


  Em O Elo, os personagens de destaque possuem falas marcantes, que delineiam suas personalidades iniciais. Vejamos algumas:

  Erik: “De que adianta desejar ser como os outros? Os sofrimentos são diferentes, mas o sofrimento é indiferente. Por que nasci como Erik? Por que não nasci na casa do vizinho? Quando me perguntava essas coisas sentia calafrios, na aurora da sensação de ser eu mesmo.”

  Judas: “Diria que o grande erudito é como um diamante, pois tende a ser raro e possui um brilho extraordinário; e um diamante costuma ser muito mais valorizado do que uma semente. Mas os sábios são como as sementes; por acaso já viu algum diamante se tornar uma árvore cheia de galhos, folhas e frutos? Para a natureza, a árvore é mais importante do que qualquer joia.”

  Aido: “Se a figueira debaixo da qual eu nasci nunca tivesse existido, eu teria nascido? Bem que o mundo é uma grinalda de flores, de mútuos originamentos e múltiplas transformações, na qual o perfume de um é o de todos e o perfume de todos é o de um! A vida é como a rede de um gigante pescador, na qual todos estamos pescados, queiramos ou não. Uma árvore cujos ramos, alguns mais secos, outros repletos de folhas ou floridos ou frutificando, difundem-se em cores e equilíbrio. Nós não somos toda a árvore ramificada: somos somente um de seus galhos. Não somos a grinalda, mas uma pétala. Não somos todos os peixes da rede e sim apenas um deles. Contudo, basta que quebremos um galho para impedir que uma nova folha ou um novo fruto, extremamente doce, nasçam; basta que tiremos uma pétala para que a grinalda perca a sua harmonia e uma parcela, ainda que mínima, do perfume; basta que devoremos algum outro peixe para que o sangue respingue e emporcalhe a rede. Qual é o melhor? O gelo? A neve? A água? O vapor? Num dia podem estar separados; mas no outro já estão todos juntos, escorrendo no mesmo regato, no mesmo vale...”

  Li Er: “Em nome da justiça, aqueles que ficam sem pais deixam esposas viúvas. Cujos maridos são, por sua vez, exploradores de inocentes, mas não deixam de ser, apesar de tudo, pais de família e seres humanos.”

  Benten: “A racionalidade não é um prêmio, mas o maior obstáculo para o entendimento do mundo. A missão do ser humano é justamente transcender a racionalidade.”

  Por fim, o enigmático vidente cego Tirésias, começando por seu diálogo com a sacerdotisa de Himavat no início do livro:

-  Continua nas sombras, meu velho amigo?
-  As sombras nunca me perturbaram, minha senhora. Mas também nunca me acompanharam...

  Seguem outras falas:

  “Não há um só destino. Há milhares deles. Mas o decorrer de cada um é incontrolável depois da decisão inicial. Você pode escolher em qual rio quer nadar ao escolher a nascente. Mas uma vez escolhida a nascente, o rio é aquele. E não pode fazer as águas escorrerem diferentemente do seu curso natural.”

  “Os seres humanos, na imensa maioria, não percebem que todos os mundos estão dispostos no infinito, e não em linha. Ao mesmo tempo, no entanto, que a falta de linearidade os perturba, não querem aceitar que tudo seja uma rede, um só cosmo. É o paradoxo: viver em pequenos pontos isolados, como se um ponto conhecesse confins! A matéria existente no cosmo inteiro é sempre a mesma, esteja ela em possibilidade, na fonte, ou em realização, em algum universo. No ciclo da vida neste mundo, os átomos que nos formam já pertenceram a corpos de animais, plantas ou minerais. Cada partícula que compõe nossa existência física contém a totalidade das informações da existência, tem uma história e uma memória que remontam a bilhões de anos, a todo o passado do cosmo, crescendo incessantemente no conteúdo. E, mesmo após a morte de um corpo físico, continua com as informações do "eu" desse corpo, além da História inteira memorizada. Seu pai está em você, assim como o planeta e a galáxia.”

  “Vejo as possibilidades e probabilidades. Tudo é possibilidade. O próprio universo era só ondas de possibilidade até que Deus se desse conta dele, o observasse e as ondas de possibilidade se transformassem portanto em ondas de ato; não há ato nem ação sem o observador adequado.”

  “Nenhum vidente tem intenção de falar complicado. A profecia simplesmente segue a linguagem da vida, que é feita de choques e paradoxos, não a linearidade inerente à linguagem verbal.”

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Prefácio - O Elo


Por Valerio Oddis Jr:



   Nasci em São Paulo. Sou filho de pai italiano e mãe descendente de húngaros, separados desde a minha infância.

   Também fui aluno da Escola Italiana Eugenio Montale, mas nunca conseguia prestar atenção na aula. Brincava com os colegas e especialmente fazia as pessoas rirem. Com todos sempre muito rígidos, minha imaginação ia além dos horizontes; qualquer coisa era motivo de graça. Uma de minhas principais invenções era encher a mão com chumaços de pêlos das roupas, soprá-los pelo ar e fazer com que caíssem nas cabeças das pessoas ou ao lado delas sem que percebessem. Não perdoei nem a diretora!

   Pintar nas borrachas rostos e feições estranhas, deixá-las na frente da carteira para que o professor também as visse, colocar ímãs dentro de um bolinho, desenhar nele um rosto sorrindo e fazê-lo rodar na mesa...O pior de tudo é que nos sentávamos bem na frente do professor.

   Enfim, quando repeti o primeiro ano do Liceo por notas baixas, mesmo indo a uma professora particular, que sempre me ajudou muito e teve paciência, decidi mudar de escola e fui para outra, onde não imaginava encontrar tanta bagunça. Porém uma bagunça insana e muitas vezes até perigosa. A escola ficava cercada de câmeras e mesmo assim nada funcionava.

   Bom, terminado o inferno na terra, foi com grande entusiasmo que resolvi prestar exame para a aeronáutica. Uma prova feita para mais de duzentas mil pessoas e que me levaria a Agulhas Negras. Sempre gostei de pilotagem e principalmente de voar...Enfim, nada feito. A bendita matemática e seus cálculos não me ajudaram muito.

   Mais tarde, enquanto trabalhava junto a meu pai, em sua fábrica de automação em São Bernardo do Campo, ele preferia que eu estudasse próximo do serviço. Foi quando entrei no curso de psicologia da Universidade Metodista de São Paulo. Um curso que eu imaginava que iria expandir meus horizontes por meio da ciência da psique humana e me tornar um dia um psicólogo; coisa que meu pai sempre detestou. De qualquer forma, não quis continuar, pois percebi que minha vocação dizia respeito às artes.
  Não tinha paciência para ficar compenetrado em um assunto que não permitisse minha liberdade interior de criar ou imaginar. Nunca fui afeito a números, leis ou regras, embora goste de física. Não, não entrei em uma faculdade de física, mas na época prestei outro processo seletivo para a área de humanas. Minha primeira opção foi Audiovisual, então um curso novo na Metodista e de poucas vagas; a segunda opção era Publicidade e Propaganda.

   Entrei em Propaganda e até gostei do curso, pois agregava psicologia e arte, porém o mundo do business e do mercado acelerado desgasta um pouco as pessoas e isso com o passar do tempo foi me cansando, pois precisava criar mensagens com o intuito de vender o produto e atingir a mente do consumidor. Nada mais do que uma forma de hipnotismo coletivo e muitas vezes através do emprego de mensagens subliminares, hoje proibidas pela autorregulamentação do CONAR (conselho nacional de autorregulamentação publicitária).

   O mundo anda corroído pela poluição visual e pelo estresse. Propagandas de tudo o que é tipo de coisa!

   Do modo como está, o barco fica a cada instante mais carregado e um dia a nossa rota não será mais em terra firme e sim rumo às profundezas.

   Ainda quero fazer Audiovisual ou uma pós. Mas hoje percebo que a minha verdadeira profissão começou aos catorze anos de idade, enquanto rabiscava em papéis esboços do que seriam ideias de aventuras de RPG e histórias engraçadas, com personagens cômicos ou surreais. Gostava muito de escutar música e de imaginar a partir delas algo além do tangível deste mundo, ainda que sempre fazendo uma relação com ele.

   Na época tive a ideia de enviar uma proposta para uma grande produtora de games, mas com o passar do tempo os conceitos foram amadurecendo e a história ganhou proporções maiores.

   Nós somos o que fazemos e, no entanto, demoramos a enxergar isso.

   Só os cegos viram o maior triunfo do mundo e do ser humano: o amor pela vida. Agradeço pela paciência e pela atenção, sejam elas como forem, de todos os que me ajudaram e me ajudam. Agora realmente me sinto realizado ao concluir, junto com um verdadeiro amigo, esta obra entre outras que virão.

   Dedico este livro à humanidade, desejando um novo horizonte, e deixo meus abraços àqueles que amo e que me apoiaram.

   Vocês são a minha família, pois são quem amo e pelos quais me sinto amado.





Por Marcello Salvaggio:



   Começamos a elaborar as primeiras ideias desta obra quando, ainda sem colocar nada no papel, tínhamos entre treze e catorze anos. O primeiro esboço, com alguns desenhos, foi para criar um jogo de RPG, porém aos poucos, com o hábito que tínhamos de criar histórias (basicamente fantásticas e de terror) ao telefone (!), a trama do jogo foi tomando proporções que transcenderam em muito a distração inicial.
   Passou-se algum tempo e um colega nosso nos perguntou por que não escrevíamos um livro, já que tínhamos tantas ideias e disposição de sobra. E foi assim que os cadernos começaram a receber as primeiras canetadas, já com um esqueleto da história pronto, mas ainda sem um desenvolvimento, com anotações dispersas reunidas em alguns encontros e principalmente durante as conversas telefônicas (revezávamos quem ligava para quem, mas, mesmo assim, haja conta para os nossos pais!).
   Na concepção da obra, os três Guardiões, ligados à Sabedoria, ao Poder e à Prosperidade (partes da Trissência, a Divindade una e trina que rege o universo desta série), representam um conceito místico, pois são ao mesmo tempo humanos e divinos, e três formas distintas de realização do ser humano.
   Aliás, a propósito de realização, não teria conseguido concluir esta obra sem o apoio dos seguintes familiares: minha mãe, meus falecidos pai e avó, meus tios Teresa, Aldo, Elio e Maria. Sem me esquecer dos amigos que de uma forma ou de outra contribuíram de maneira mais próxima em minha trajetória de vida e consequentemente com a elaboração desta obra: Regina de Luca, Anna Maria das Neves, Valéria Bittencourt, José Oswaldo Santana Júnior, Dolores Mehnert, Giulianna Seabra, Lilian Alexandra Jóia, Cibele Brumatti, Enrico Ferri, que foi quem deu a sugestão do livro ainda em nossa adolescência, e, como é óbvio, meu companheiro de empreitada, Valerio Oddis Jr. Deixo a todos os meus sinceros agradecimentos.